Tenho
um prazer enorme em criar capas de livro. Não que eu tenha desenhado muitas
capas por aí, mas desenhar capa de livro sempre foi pra mim um trabalho
bastante prazeroso. Compreender a ideia da obra, o conceito geral e rabiscar
numa folha alguns elementos como o título, o nome do autor, as imagens, uma
eventual editora e criar o clima da história do livro é um trabalho que faço
com bastante calma, assim, apreciando cada etapa.
Bom,
após alguns rabiscos, defini basicamente que queria uma capa limpa, apenas com
os elementos imprescindíveis: título da série, personagens, definição do
conceito da obra e título da história. Mesmo assim, achei melhor pesquisar
algumas capas realmente especiais.
Entre
elas, achei umas capas do Asterix que trabalham com elementos de sombra que
estão fora do enquadramento e que ampliam o ambiente de percepção do leitor. A
sombra cria um sentimento de mistério muito interessante sobre o enredo da obra,
convidando o leitor a abrir o livro para identificar o elemento misterioso.
Como
a ideia do livro é valorizar a história da cidade de Farroupilha, apresentei
como ilustração principal os três imigrantes italianos se deparando com a
sombra do Monumento ao Imigrante. Evidentemente, a cena nunca aconteceu. Os
imigrantes chegaram em 1875 e o Monumento foi inaugurado em 1975, cem anos após
a chegada. Mas, a ideia desta viagem no tempo é mesmo a essência da obra, ou
seja, resgatar a história da cidade. Então, ao invés de colocar o monumento de
forma explícita, apliquei apenas sua sombra sobre os três imigrantes, como se
eles se deparassem com o monolito negro de Kubrick. A expressão dos personagens
é de quem não tá entendendo nada, assim como o leitor. Mas assim que abre o
livro, o leitor encontra uma foto do monumento e uma explicação sobre o
problema temporal da capa.
Monumento ao Centenário da Imigração Italiana em Nova Milano - Farroupilha (RS) |
O resultado permanece sutil. E a ideia é essa mesmo:
o leitor farroupilhense que se demorar um pouquinho mais na apreciação da capa
vai perceber o código escondido na sombra e, automaticamente, vai fazer a ponte
entre o pretérito perfeito e o pretérito mais que perfeito. Por sua vez, o
leitor forasteiro não deve entender muita coisa.
Rafes dos personagens da capa |
Além disso, decidi que a capa
deveria apresentar um leiaute que permita a troca do tema sem perder a
característica de série. Então, previ algumas variações de cores para cada
número.
Estudo de variações de cores para a capa |
A
ordem de leitura acontece de cima para baixo conforme a seta na imagem: o nome
da série de livros é a primeira leitura, o tema da obra (personagens) é a
segunda e o título da história, a terceira. Optei por elementos simples que não
comprometem a identificação dos elementos.
Ordem de leitura da capa |
Escolhi
uma textura de papel antigo, manchado e maltratado pelo tempo e apliquei alguns
filtros do Photoshop sobre a imagem até chegar neste conjunto de cores
contrastantes (laranja, magenta e ciano) espalhadas nas margens da folha. A
escolha do tom laranja contribui para o impacto da capa.
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