O
processo de uma construção de uma história baseada em fatos históricos envolve,
primeiramente, a pesquisa de relatos sobre os acontecimentos. Pesquisei e li
dezenas de livros. Facilitou muito a busca na biblioteca. Como professor universitário, tenho acesso a dezenas de fontes históricas
que não se encontram na internet. Daí você lê uma cacetada de livros e quando
percebe que os fatos começam a se repetir, chega a hora de começar a colocar no
papel (ou no digital, mesmo).
Livros sobre a imigração italiana |
Comecei
com uma linha do tempo da imigração. Causas, fatos, consequência, lugares,
pessoas, datas. Tudo organizado numa linha que orienta todo o pensamento.
Depois, decidi que esta linha do tempo irá para o livro como material didático
para compreender melhor os acontecimentos.
O
passo seguinte é pensar em como contar a história. Pretendi abranger 30 anos:
desde o início, incluindo as causas da imigração, até o estabelecimento das
famílias italianas por aqui. Isso vai de 1870 a 1900. Pra não virar uma
confusão, precisei eleger um personagem pelo qual o leitor vai acompanhar toda
a saga. Pesquisei cada família: Sperafico,
Radaelli e Crippa. Deveria escolher um deles e os outros seriam os personagens
escada (aqueles em que os diálogos acontecem). Ah, tem que contar também as
mulheres deles e seus filhos – acreditem, é um monte de gente! E aí? Devo
apresentar todos? Esquecer a maioria e ficar só com um deles?
Para
solucionar este impasse, precisei recorrer à teoria do roteiro cinematográfico
e dos quadrinhos (que são muito parecidos).
Só para esclarecer: roteiro é o registro escrito onde constam as
descrições das cenas, dos personagens e suas falas. Aí, pensando com a lógica
do cinema e da narração de histórias, decidi que o conceito da história seria o
que se chama de “jornada”. Ou seja, o
personagem principal vive em seu mundinho quando surge um incidente que muda a
sua vida e o empurra para uma viagem ao desconhecido, buscando algo importante.
Durante esta jornada, surgem vilões, companheiros, e muitos problemas. Assim,
ao final da jornada, ele não é mais a mesma pessoa que começou a história. Às
vezes eu penso se a jornada é do personagem ou minha: afinal, 52 páginas de
quadrinhos não é mole roteirizar, leiautar, desenhar, finalizar, escanerizar,
colocar os balões com os diálogos, colorir. Sem contar as outras histórias que
aguardam início ainda. Ok, então escolhi o personagem que mais se adequava ao
roteiro e fiz dele o personagem principal da história.
Outra
coisa que se pensa quando se cria uma história deste tamanho são os subenredos.
Contar a história somente de um ponto de vista em 52 páginas torna a leitura
pouco atraente. Então, a história tem uma linha principal, cuja trama é
conduzida através do personagem principal. E os subenredos “costuram” esta
trama, ora gerando problemas, ora gerando diálogos, ora gerando acontecimentos
paralelos. Um bom roteirista sabe fazer essa costura muito bem. Não sei se é o
meu caso.
Roteiro Full Script |
Esse
modelo de roteiro é chamado de Full Script (Script completo), pois nele são
apresentados a descrição do que aparece no quadrinho, os personagens
participantes, as emoções, os diálogos de forma que o desenhista tenha uma
ideia clara do que deve ser ilustrado.
Durante
a construção do roteiro, eu adotei outra prática paralela que, por eu ser o
escritor e o desenhista, me serviu muito bem no que se refere ao ritmo e a
divisão de cenas. No cinema, esta etapa é chamada de storyboard, ou seja, cada
cena do filme é desenhada em quadros, como se fosse um rascunho, para que o
filme seja “visto” da mesma maneira por toda a equipe que vai filmá-lo. Assim,
construí o roteiro e ao mesmo tempo elaborava um rafe (esboço) de cada página e
podia, então, já visualizar como cada página se comportaria. Ou seja, o roteiro
dependia dos rafes e os rafes dependiam do roteiro.
Rafe do roteiro: dá uma ideia de como ficará a página, o ritmo, tamanho das falas, personagens, etc. |
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