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segunda-feira, 16 de setembro de 2019

A POLÊMICA DO ROSTO DA ESTÁTUA DA SANTA

A HQ trata do conceito de beleza e leva o leitor a questionar seus critérios ou padrões pré-determinados


Desde que a primeira estátua de Nossa Senhora do Caravaggio foi construída a polêmica sobre o rosto se instaurou em Farroupilha e na região. A discussão na comunidade era sobre a aprovação do rosto da santa. A estátua havia sido inaugurada em 2008, no início da Rodovia dos Romeiros, tinha 8 metros de altura e custou aos cofres públicos a bagatela de R$ 179 mil em valores da época.

Primeiro rosto da estátua

Após muito barulho, resolveram alterar o rosto da santa. Contrataram novo artista e, mantendo o mesmo corpo, apenas o rosto foi alterado. Pela segunda vez, o rosto gerou polêmica, muita gente não gostou. Porém, esta segunda versão permaneceu por mais alguns anos. Em dezembro de 2015, a estátua completa foi removida do seu pedestal da rótula da RSC-452 e foi transferida para um jardim aos fundos do Santuário de Caravaggio.

Segundo rosto da estátua

Como o transplante do rosto não funcionou, decidiu-se pela construção de uma nova estátua. Voluntários se dispuseram a doar materiais como cimento e tinta para o que seria a terceira tentativa. Esta estátua possui 5 metros de altura, menor portanto, para se adequar ao espaço que a acolhe, na rótula da RSC-453. A estrutura é revestida de ferro e concreto. As posições da santa e da Joaneta oferecem uma ideia de interação entre elas, algo que não havia na versão anterior. A nova estátua custou R$ 60 mil (valores de fevereiro de 2018) e foi captado pela equipe do Santuário, através da venda do Manual dos Devotos.

Estátua nova com o terceiro rosto

Para se construir uma estátua de qualidade, é necessário talento especial. Não é qualquer artista que consegue uma reprodução humana perfeita em uma escultura. Quando se quer produzir um material artístico, não se pode escolher o artista por critérios financeiros. Quando a escolha se dá unicamente por critérios financeiros, corre-se o risco de ter resultados desastrosos, como estes exemplos.

O critério mais importante na escolha do artista para a obra se dá pela sincronia entre o que o cliente quer como resultado e a produção e experiência do artista naquele estilo. Os valores podem ser negociados depois. Analisando em retrospectiva, percebe-se que teria valido a pena investir R$ 200 mil na primeira vez em uma obra que agradasse a maioria. Talvez até fosse interessante que a comunidade conhecesse um protótipo da obra para que julgasse o resultado antecipadamente.

Veja o meu exemplo: como artista amador de quadrinhos, se eu criasse uma HQ de super-heróis, provavelmente seria um desastre. Meu estilo de traço é diferente, meu estilo de narrativa é outro, só sei que o resultado seria um tanto quanto estranho. Ou pelo menos, eu levaria uns bons 10 ou 15 anos para me aperfeiçoar em outro estilo. Quem é que vai esperar tanto tempo por algo assim?

Sobre a beleza 


Toda esta polêmica leva a pensar sobre a interferência do gosto ou da estética na vida cotidiana e na coisa pública. Não se pode considerar o gosto pessoal como critério avaliativo. Jamais haveria consenso e as polêmicas seriam eternas.

Pode-se, no entanto, apelar para a estética ou critérios artísticos para uma avaliação técnica mais justa. Mas, o que é o belo? Como determinar aquilo que é belo e aquilo que é feio?

Ao considerar a história da arte, percebe-se que o padrão de beleza, principalmente a beleza feminina, direcionado à aparência física da mulher, muda conforme a época. A beleza, através do tempo, foi vista como harmonia na forma através da simetria e da justa proporção, como beleza ideal, espiritual, útil e funcional. Ao lado do belo se criou o conceito de feio como sua antítese. Uma desarmonia em relação às regras da proporção.

As duas capas dos livros de Humberto Eco


Na historia da humanidade, são inúmeros os exemplos de como a beleza ou a feiura determinam aprovação ou reprovação, vida ou morte. O padrão que a sociedade determina o que é belo e o que é feio molda a maneira do homem pensar. As bruxas, por exemplo, eram perseguidas e condenadas, sobretudo, porque eram feias.

Humberto Eco afirma que há dois problemas nisso: o primeiro é a ação de tornar o inimigo feio para que todos possam odiá-lo. E o segundo é quando o outro é feio e, portanto, deve ser odiado por causa disso. Estes livros mostrados na imagem fazem um resgate histórico dos dois temas em profundas análises.

Um comentário:

  1. Talvez seja interessante verificar as proporções da estátua original, em Caravaggio, província de Bergamo. Os próprios entes sa igreja/prefeitura contatar os italianos. É de Bergamo o pintor Aldo Locatelli, por isso acredito que primem pela beleza nas artes e representações das réplicas e por colaborar por um bom êxito da santa.

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