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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Quadrinhos baseados em fatos históricos

O processo de uma construção de uma história baseada em fatos históricos envolve, primeiramente, a pesquisa de relatos sobre os acontecimentos. Pesquisei e li dezenas de livros. Facilitou muito a busca na biblioteca. Como professor universitário, tenho acesso a dezenas de fontes históricas que não se encontram na internet. Daí você lê uma cacetada de livros e quando percebe que os fatos começam a se repetir, chega a hora de começar a colocar no papel (ou no digital, mesmo).

Livros sobre a imigração italiana

Comecei com uma linha do tempo da imigração. Causas, fatos, consequência, lugares, pessoas, datas. Tudo organizado numa linha que orienta todo o pensamento. Depois, decidi que esta linha do tempo irá para o livro como material didático para compreender melhor os acontecimentos.

O passo seguinte é pensar em como contar a história. Pretendi abranger 30 anos: desde o início, incluindo as causas da imigração, até o estabelecimento das famílias italianas por aqui. Isso vai de 1870 a 1900. Pra não virar uma confusão, precisei eleger um personagem pelo qual o leitor vai acompanhar toda a saga. Pesquisei cada família: Sperafico, Radaelli e Crippa. Deveria escolher um deles e os outros seriam os personagens escada (aqueles em que os diálogos acontecem). Ah, tem que contar também as mulheres deles e seus filhos – acreditem, é um monte de gente! E aí? Devo apresentar todos? Esquecer a maioria e ficar só com um deles?

Para solucionar este impasse, precisei recorrer à teoria do roteiro cinematográfico e dos quadrinhos (que são muito parecidos).  Só para esclarecer: roteiro é o registro escrito onde constam as descrições das cenas, dos personagens e suas falas. Aí, pensando com a lógica do cinema e da narração de histórias, decidi que o conceito da história seria o que se chama de “jornada”.  Ou seja, o personagem principal vive em seu mundinho quando surge um incidente que muda a sua vida e o empurra para uma viagem ao desconhecido, buscando algo importante. Durante esta jornada, surgem vilões, companheiros, e muitos problemas. Assim, ao final da jornada, ele não é mais a mesma pessoa que começou a história. Às vezes eu penso se a jornada é do personagem ou minha: afinal, 52 páginas de quadrinhos não é mole roteirizar, leiautar, desenhar, finalizar, escanerizar, colocar os balões com os diálogos, colorir. Sem contar as outras histórias que aguardam início ainda. Ok, então escolhi o personagem que mais se adequava ao roteiro e fiz dele o personagem principal da história.

Outra coisa que se pensa quando se cria uma história deste tamanho são os subenredos. Contar a história somente de um ponto de vista em 52 páginas torna a leitura pouco atraente. Então, a história tem uma linha principal, cuja trama é conduzida através do personagem principal. E os subenredos “costuram” esta trama, ora gerando problemas, ora gerando diálogos, ora gerando acontecimentos paralelos. Um bom roteirista sabe fazer essa costura muito bem. Não sei se é o meu caso.

Roteiro Full Script

Esse modelo de roteiro é chamado de Full Script (Script completo), pois nele são apresentados a descrição do que aparece no quadrinho, os personagens participantes, as emoções, os diálogos de forma que o desenhista tenha uma ideia clara do que deve ser ilustrado.

Durante a construção do roteiro, eu adotei outra prática paralela que, por eu ser o escritor e o desenhista, me serviu muito bem no que se refere ao ritmo e a divisão de cenas. No cinema, esta etapa é chamada de storyboard, ou seja, cada cena do filme é desenhada em quadros, como se fosse um rascunho, para que o filme seja “visto” da mesma maneira por toda a equipe que vai filmá-lo. Assim, construí o roteiro e ao mesmo tempo elaborava um rafe (esboço) de cada página e podia, então, já visualizar como cada página se comportaria. Ou seja, o roteiro dependia dos rafes e os rafes dependiam do roteiro.

Rafe do roteiro: dá uma ideia de como ficará a página, o ritmo, tamanho das falas, personagens, etc.


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